quinta-feira, 9 de setembro de 2010


Existe actualmente dentro da cultura feminina uma suspeita quanto ao masculino, um medo de "precisar do masculino". Isso tem como origem os traumas que mal começam a cura-se provocados pela família e pela cultura em tempos passados, quando as mulheres eram tratadas como servas, não como indivíduos de identidade própria. Ainda está presente na memória da Mulher que houve um tempo em que as mulheres talentosas eram descartadas como lixo, em que uma mulher não podia ter uma ideia a não ser que em segredo a plantasse num homem, que então a apresentava ao mundo lá fora como se fosse exclusivamente sua.


Recentemente, porém creio que não podemos ignorar nenhuma metáfora que nos ajude a ver e a ser. Eu não confiaria numa paleta na qual faltasse o vermelho, o azul, o amarelo, o branco ou o preto. Vocês também não confiariam. O animus (masculino) é uma cor primária na paleta da psique feminina. O aspecto principal do desenvolvimento do animus (masculino) é a real manifestação de pensamentos, impulsos e idéias muito particulares.

Além do mais, o masculino (animus) é um elemento da psique da mulher que precisa ser exercitado, que precisa treinar com regularidade, a fim de ser capaz de agir. Se ele for negligenciado na vida psíquica da mulher, irá atrofiar-se, exactamente como um músculo que permaneceu inerte por muito tempo.

Embora algumas mulheres levantem a hipótese de que uma natureza de mulher-guerreira, a natureza de amazona, a da caçadora, possa suplantar esse elemento"masculino-dentro-do-feminino", para mim existem muitas camadas e nuances da natureza masculina, como por exemplo um certo tipo de criação de normas, de decretação de leis, de estabelecimento de fronteiras, em termos intelectuais, que é extremamente valioso para mulheres que vivem nos nossos dias.

Esses atributos masculinos não se originam do temperamento psíquico instintivo das mulheres com a mesma forma ou tom daqueles da sua natureza feminina.

Portanto, por vivermos, como vivemos, num mundo que exige tanto a acção meditativa quanto a acção concreta, considero muito útil o emprego do conceito de uma natureza masculina ou animus na mulher.


Quando em perfeito equilíbrio, o animus atua como auxiliar, companheiro, amante, irmão, pai, rei. Isso não quer dizer que o animus seja rei da psique da mulher, como poderia sustentar um ponto de vista patriacal doentio.

Clarissa Pinkola Estés

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