domingo, 8 de março de 2009

Terapia Psico-Corporal

Jung já dizia, em 1935, que no tempo de nossos ancestrais a “consciência” humana formou-se a partir do “relacionamento sensorial da nossa pele com o mundo exterior”.

A pele é órgão provido de milhões de receptores nervosos, que nos põe em contacto com o mundo exterior, e isto acontece já a partir da 6ª semana de vida do feto, em que o contacto com o mundo limita-se ao contacto com o líquido amniótico. Durante o nascimento será também a pele o órgão privilegiado através do qual o bebé entra em contacto com a pele da mãe, e a partir desse momento irá formando a sua noção do “eu” e do “outro”.

Se aceitarmos que a principal meta da psicoterapia é criar condições para que a pessoa amplie a consciência que tem de si própria, a ponto de poder expressar tão plenamente quanto possível suas potencialidades individuais com equilíbrio e criatividade; Se aceitarmos ainda que cada pessoa é um todo indivisível e que o seu corpo e o seu psiquismo são apenas diferentes formas de expressão desta mesma unidade sincrónica, então podemos entender a função do corpo, por exemplo através do toque terapêutico, como um importante recurso na facilitação do nosso acesso ao mundo interior do ser humano.
As teorias e práticas psico-corporais das diversas correntes que actualmente se utilizam e desenvolvem no ocidente foram semeadas por Wilhelm Reich e C.G. Jung. Só para ilustrar a profunda convicção de Jung sobre a união mente-corpo, refiro:

• Ao falar sobre o carácter emocional da transferência:
(...)”As emoções não são manejáveis como as ideias ou os pensamentos, pois são idênticas a certas condições físicas, sendo, portanto, profundamente enraizadas na matéria pesada do corpo(...).”

• Ao falar sobre o carácter contagioso das emoções:
“A projecção de conteúdos emocionais sempre tem uma influência particular. As emoções são contagiosas, estando profundamente enraizadas no sistema simpático, que tem o mesmo sentido que a palavra “sympathicus”. (...)”

• Na entrevista concedida a G. Dupain em 1959 sobre a temática das mudanças e adaptações necessárias para a Humanidade na entrada do terceiro milénio:
“Duplain – Mas que recomendações pode fazer para a passagem que está prestes a ocorrer e cujas dificuldades o senhor teme?
Jung: Um espírito de maior abertura em relação ao inconsciente, uma atenção maior aos sonhos, um sentido mais agudo da totalidade do físico e do psíquico, da sua indissolubilidade; um gosto mais activo pelo auto-conhecimento. Uma higiene mental melhor estabelecida, se quisermos ver as coisas por esse prisma”.

• Extracto duma das 5 conferências de Jung em Londres em 1935:
“Participante” : Posso dizer então que a irrupção de uma doença neurótica, do ponto de vista do desenvolvimento humano, é um factor favorável?
Jung: É isso mesmo, e fico contente que esse ponto tenha sido levantado. O meu ponto de vista é realmente este. Não sou totalmente pessimista em relação a uma neurose. Em muitos casos deveríamos dizer: “Graças a Deus ele decidiu ficar neurótico”. Essa é uma tentativa de auto-cura, bem como qualquer doença física também o é. Não se pode mais entender a doença como um ens per se, como uma coisa desenraizada, como há algum tempo se julgava que fosse. A medicina moderna, a clínica, por exemplo, concebe a doença como um sistema composto de factores prejudiciais e de elementos que levam à cura. O mesmo se dá com a neurose, que é uma tentativa do sistema psíquico auto-regulador de restaurar o equilíbrio, que em nada difere da função dos sonhos, sendo apenas mais drástica e pressionadora”.

O corpo não mente e isto torna a terapia psico-corporal mais efectiva e ampla nas suas possibilidades. Através da física quântica tornou-se evidente que o mundo e a natureza na sua base são indivisíveis. Se a não separação fosse aplicada à medicina e psicologia, tornar-se-ia evidente que o corpo e a psique partilham uma mesma informação, e são manifestações de um processo único, mesmo que reajam de forma diferente. De forma análoga ao processo físico de onda e corpúsculo, em que uns fenómenos são mais facilmente entendíveis estudando a onda, e outros entendendo o corpúsculo, na terapia há fenómenos que são atingíveis a partir da psique e outros quando percepcionados no corpo. Da compreensão de ambos os fenómenos em conjunto deriva a importância da terapia psico-corporal.

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