domingo, 4 de setembro de 2011




“O Outono ensina-me a lidar com a entropia da matéria na intersecção do espaço-tempo, ou por outras palavras com o envelhecimento. Ele ensina-me que a profundidade dos meus erros tem a mesma medida da elevação dos meus sucessos. Por isso, me apazigua comigo mesma. O Outono tem uma luz cálida que abraça todos os elementos numa só tarde: ensina-me a deixar o radicalismo das minhas posições e crenças, e ensina a relatividade de todas as coisas, no seio de um universo onde a verdade maior é Una (é Tudo e Todos).

O Outono sussurra-me nos seus ventos frescos, a importância da fraternidade; as suas cores falam-me da poética do encontro humano, que as suas chuvas convidam a redescobrir. O equinócio do Outono ensina o equilíbrio como valor que restaura vida, e a medida certa de todas as coisas, que importa respeitar nas dimensões humana e natural. O Outono convida-me nas suas danças, a alinhar a personalidade com a minha Alma.

O Outono é para mim como o caminho do meio: avançar pela vida entre o rigor e a compaixão, entre a disciplina e a tolerância, o eu e o outro, o dar e receber… Aprendo com o Outono a gratidão das ultima colheitas recém cortadas, e nesse agradecimento colho a chave da abundância da vida. Nas folhas vermelho ocre vejo os cabelos da Deusa a esvoaçar, nos ventos repentinos, o seu fôlego limpando-nos dos velhos fantasmas da mente e da alma; nas águas mais escuras dos rios vejo o seu sangue a convidar-nos a fluir para um novo estado, mais de dentro e do profundo, mais alinhado com o centro invisível, sereno e doce. No Outono, quero renovar votos de amor para com a natureza, os elementos e comigo mesma. Tão belo, o Outono que assim me ensina a viver…e só sabendo viver bem cada dia da minha vida, posso aspirar a saber morrer bem, quando chegar a hora da passagem, essa que me trará a maior renovação.

O Outono é da Alma, é do reino da memoria, dos momentos que são apenas e só… isso mesmo. No Outono a Deusa chama: dilui-te na lágrima da saudade, dissolve-te no rio do passado, banha-te nos olhos da ternura, molha-te nas chuvas do tempo novo, e sorri …


Vera Faria Leal, Outono 2011

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