segunda-feira, 1 de março de 2010


O corpo é como um planeta. Ele é uma terra por si só. Como qualquer paisagem, ele é vulnerável ao excesso de construções, a ser retalhado em lotes, a se ver isolado, esgotado e alijado do seu poder. A mulher mais selvagem não será facilmente influenciada por tentativas de urbanização. Para ela, as questões não são de forma, mas de sensação. O seio em todos os seus formatos tem a função de sentir e de amamentar. Ele amamenta? Ele é sensível? Então é um seio bom.
Já as ancas são largas por um motivo. Dentro delas há um berço de marfim acetinado para a nossa vida. As ancas da mulher são estabilizadoras para o corpo acima e abaixo delas. Elas são portais, são uma almofada opulenta, suportes para as mãos no amor, lugar para as crianças se esconderem. As pernas foram feitas para nos levar, às vezes para nos empurrar. Elas são as roldanas que nos ajudam a subir; são o anillo, o anel que abraça o amado. Elas não podem ser criticadas por serem muito isso ou muito aquilo. Elas simplesmente são.
No corpo, não existe nada que "devesse ser" de algum jeito. A questão não está no tamanho, no formato ou na idade, nem mesmo no facto de ter tudo aos pares, pois algumas pessoas não têm. A questão selvagem está em saber se esse corpo sente, se ele tem um vínculo adequado com o prazer, com o coração, com a alma, com o mundo selvagem. Ele tem alegria, felicidade? Ele consegue ao seu modo movimentar-se, dançar, gingar, balançar, investir? É só isso que importa.
Clarissa Pinkola Estés
Mulheres que correm com os lobos

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